quinta-feira, 17 de julho de 2014

População aponta que lugar de idoso é junto à família


O Brasil tem 25 milhões de idosos. Em seis anos, serão 30 milhões de pessoas acima dos 60 anos. Menos de 200 mil estão nos asilos. Mas se depender do desejo da maioria da população fluminense, o número de sexagenários asilados seria bem menor. Pesquisa encomendada ao Instituto Gerp pelo jornal O Dia revelou que 75% dos 870 cariocas e fluminenses, entre os dias 20 a 25 de junho, não colocariam seus pais em um asilo até de boa qualidade, mesmo que tivessem alta renda.

Especialistas em terceira idade acreditam que a decisão é fruto do preconceito. “As famílias acham que se deixá-los lá eles serão negligenciados. Às vezes é preferível ter a ajuda de fora, onde serão bem cuidados e estimulados, do que deixá-los em casa, sem condições, e, em alguns casos, em situação de abandono”, afirma a geriatra Lenita Balbino.

Consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS) e diretor da Universidade da Terceira Idade (Unati-Uerj), o médico Renato Veras explica que o mais importante é manter o idoso ativo. “Na Unati, eles cantam, dançam, aprendem línguas, fazem trabalhos manuais e até cursos de prevenção de quedas”, ressalta. A florista mais antiga do Rio, Marina Martins Machado, 89 anos, nem pensa em se aposentar. 

Nos 62 anos à frente da floricultura Roseiral do Flamengo ela só fechou a loja uma única vez. “Há oito anos, quando meu irmão morreu”, recorda Marina que adora o que faz. “As flores animam. Deus me livre, ficar em casa e doente no sofá”, diz.

Moradoras de Copacabana, Lucelena do Valle, 60, Ana Maria Calcado, 65, e Thereza Justino, 50, ocupam o tempo livre se exercitando nas academias da terceira idade da prefeitura. “É um lugar para fazer amigos e cuidar da saúde”, conta Lucelena, que mora sozinha, como deseja 15% dos entrevistados. Quase metade (42%) disse que, se pudesse escolher, gostaria de passar a velhice com o companheiro na própria casa. Outras 25% morariam com os filhos. De acordo com a pesquisa, 71% disseram que os idosos ajudam na despesa da casa.

“A contribuição dele é importante na renda familiar. Muitas vezes ele é o provedor da casa com a sua aposentadoria”, observa o pesquisador do IBGE, Gabriel Borges. A antropóloga da PUC Sônia Giacomini acredita que a questão financeira influi na decisão de não mandar os pais para o asilo. “Existe o apego familiar, mas em muitos lares, a pensão do idoso sustenta uma família inteira”, analisa.
Segundo a pesquisa, 53% não concordam com a diferença de idade de aposentadoria entre homens (aos 65 anos) e mulheres (aos 60 anos). Acham que deveriam parar de trabalhar na mesma idade. Para 37%, o limite atual não deve ser alterado. O advogado André Viz diz que a diferença de idade é uma compensação para as brasileiras. “Ao longo da vida, as mulheres enfrentam dupla jornada, acumulando tarefas no trabalho e nos cuidados com a casa e os filhos. Nada mais justo que elas sejam recompensadas se aposentando mais cedo do que os homens”, defende Viz.

Busca de qualidade de vida melhora velhice entre elas

Mais preocupadas com a saúde e bem mais sociáveis, as mulheres são as que sabem viver bem a velhice, na opinião de 55% das pessoas ouvidas na pesquisa. Só 31% acham que os homens envelhecem melhor. Na avaliação da geriatra Lenita Balbino, a longevidade feminina está associada à rotina de hábitos preventivos.

“As mulheres se cuidam mais, bebem e fumam menos. Fazem exames e se expõem menos aos riscos”, explica. Para ela, a capacidade de fazer novos amigos é maior entre as mulheres. “Elas buscam meios para envelhecer melhor. Eles são muito dependentes. Quando ficam viúvos, acabam adoecendo”, observa Lenita.

Na Unati, 80% dos três mil alunos são mulheres. “Elas são ativas, saem juntas, vão ao teatro e participam de atividades no dia seguinte. Isso aumenta a qualidade de vida”, diz Renato Veras. “As alunas tomam menos remédios hoje do que há 20 anos, quando não estavam no grupo”, afirma o médico.

Amigo influencia moradia

Morar num lugar tranquilo longe dos grandes centros urbanos é o desejo de 36% dos entrevistados na pesquisa. Eles gostariam de viver em uma cidade pequena ou ainda em uma chácara na área rural. A maioria, porém, não tem vontade de deixar a atual residência. Seis em cada dez pessoas, se pudessem escolher, gostariam de passar a velhice na cidade onde já moram e está o seu círculo de amizades e familiares.

O convívio com pessoas da terceira idade é comum nos lares brasileiros. De acordo com o levantamento, cerca de 27% das famílias residem com parentes acima dos 60 anos. A maior parte delas (58%) disse que os idosos dividem um cômodo com alguém da família.

Fonte:www.odia.ig.com.br

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