quinta-feira, 24 de julho de 2008

O Rio não merece

Ainda sobre a guerra suja do Rio, em que traficantes, milícias e tropas do estado disputam o espaço urbano, tendo uma população de milhões de cariocas no meio dos combates, é importante que os governos reconheçam que a crescente favelização da cidade é componente fundamental para o estado crítico a que chegamos, em pleno século XXI.
Pouca gente se deu conta ou insiste em não enxergar que a falta de uma política habitacional para baixa renda é, se não o maior, um dos principais fatores para a violência urbana. Na verdade, a cumplicidade tolerante dos governos para com as invasões e construções irregulares resultou em complexos inexpugnáveis em praticamente todos os bairros da cidade. São labirintos de previsíveis conseqüências de degradação ambiental, que contribuíram sobremaneira para o atual estágio de caos social e urbano.
São populações inteiras sob o julgo de gangues, que cresceram com a complacência e até parceria do Estado, que insiste em tratar a violência pública unicamente como assunto de polícia. É preciso atentar também para as políticas inicialmente postas em prática para transformar favelas em bairros, que acabaram por multiplicar e institucionalizar a desordem urbana. Basta ver o que aconteceu com históricos e bucólicos bairros dos subúrbios da Central ou da Leopoldina, que se transformaram em bairros-favela, tal o grau de degradação e abandono que atingiram por causa de posturas no mínimo demagógicas de autoridades egocêntricas e populistas. Na verdade, tais políticas só serviram a grupos de oportunistas que comercializam e sobrevivem das carências e ignorância das massas, sobrevalorizando migalhas assistencialistas, num primeiro momento simpáticas, mas que, na verdade, eterniza a acomodação de quem só tem a esperança por salvação. Aliás, pouca gente se deu conta que, talvez, esteja sendo preparado o terreno fértil para aventuras pouco ortodoxas sob a bandeira de se resgatar a justiça social. Sabemos que os primeiros passos para tal consiste na desmoralização das instituições juntamente com incentivos à tensão social, práticas estas que fazem parte do cotidiano atual de, praticamente, todas grandes cidades do País. É preciso salvar a democracia dos aproveitadores de plantão.

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